domingo, 15 de março de 2009

corpo

O vazio é tão cheio, cheio como essa cama coberta de lembranças de carne. carne fresca e desossada, só pele na verdade, esquadrinhada toda, mapeada, documentada, as vestes são tudo que sobrou. Deito e lembro de tudo, das imemórias do vivido, do cobrado sem crédito, as voltas com a sede de medrâncias esquivas. Ah, se não fosses tão bela. As coisas teriam sido meramente dolorosas e mais evidentemente claras. Huahuah! As sombras das tuas coxas continuam a me assombrar. Claramente equivocadas e mesquinhas tuas provocações. Deixando em aberto sempre alguma coisa, um sentido, sempre incerto, impreciso, vago. O território possível de sentido era teu domínio e teu sonho incauto foi sempre conquistar um mundo. Sedução certa criadora de dúvida, desvios, rotas esguias de tua carne, esquivas de uma resposta. Era na procura que querias que eu sempre estivesse. E lá estava eu. sempre. Objetalmente reduzido, encarnando a elasticidade da incompreensão ao ver-me novamente só comigo. Tens sempre sorte de ser a primeira a virar de costas o olhar, teu foco. De quando em vez convenço-me a me vingar, ser o primeiro a sair, fechar a porta atrás. Mas é o corpo sempre, quem comanda o barco.

Um comentário:

  1. agradeço a referência, mas não é por isso que comento. este texto foi um aperitivo para um olhar mais prolongado por cá. já notei que o delírio aqui também se estrutura, por isso vou ficar. calado, apenas lendo.

    um abraço.

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