quarta-feira, 22 de abril de 2009

turbilhão




turbilhão
nem sinto mais
pedras passam de quando em vez
acertam os ponteiros
me atrasam
me precisam

são as dores de permanecer que me agüentam,
me suportam
me sustentam
vê, não queria saber-me seguro
como cesariana, aquele belo casal
não queria ver-me ali
incestuado em sombras e devaneios
flácidos de vento.
Queria-me feliz
concretocertoprecisoprofundoinfinitoDeussss
apenas
e é esse o problema, amor
é esse:
quero-te em várias formas
de conteúdo contudo sempre mesmo
Nada.

Julgozo disperso de incerteza sou,
perco o andar,
não sei mais qual é.
Lá me vou sem par.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

ideal



"Corpo de moça". Foto de Paulo Salermo.


Porque te calas? As azuis esperanças de estar com alguém que realmente se queira se esvão com o caminho do ideal. Senhora, o medo que tenho de ti é sem igual. É igual a quanto gosto de ti, a quanto fujo de ti. Fujo porque sei que me decepcionarei. Sustento-me no que não existe, me sustento no vento, no nada que trago ao mundo, me prendo no além, naquela imensidão que não sei, nas belas funduras de uma suposta alma de quem acha que existe. E mesmo assim não é ilusão. Mesmo assim não é nada. Essa é a tragedória. Flutuar num sem terra, desterritorialização constante de ser. Espera-la, pensar um dia encontra-la, beijá-la ternemente se não mais ser. Atravessar o rio, me afogar, sentir o gosto doce da água no pulmão, sentir o gelado do escuro, ser apenas levado, a correnteza me libertando do sentido.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

a mesa vazia




Estar ciente que o desespero pode cair na cabeça e balançar os grilhões. mesmo sem a cara amarrada no sem nome, ademais a sorte nos indica que a mansidão da alma se esvai a medida que se avança em direção àquilo que não se espera. Mas então qual a razão? Qual o sentido? Lá, aponta o outro. Sempre o Outro, aquele do Lacan. E às vistas do sem calma do não existir adentra a sala de jantar e mata o que não diz. Mata o que não sente. Mata o que não vê. Sobramos poucos e mesmo assim esses não somos nós. Sobram o desespero do existir, sobra a mesa vazia.