sexta-feira, 10 de abril de 2009

ideal



"Corpo de moça". Foto de Paulo Salermo.


Porque te calas? As azuis esperanças de estar com alguém que realmente se queira se esvão com o caminho do ideal. Senhora, o medo que tenho de ti é sem igual. É igual a quanto gosto de ti, a quanto fujo de ti. Fujo porque sei que me decepcionarei. Sustento-me no que não existe, me sustento no vento, no nada que trago ao mundo, me prendo no além, naquela imensidão que não sei, nas belas funduras de uma suposta alma de quem acha que existe. E mesmo assim não é ilusão. Mesmo assim não é nada. Essa é a tragedória. Flutuar num sem terra, desterritorialização constante de ser. Espera-la, pensar um dia encontra-la, beijá-la ternemente se não mais ser. Atravessar o rio, me afogar, sentir o gosto doce da água no pulmão, sentir o gelado do escuro, ser apenas levado, a correnteza me libertando do sentido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário